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Mulheres empreendedoras enfrentam desafios e ganham espaço no e-commerce

7 de março de 2022 - Atualizado em: 29 de novembro de 2024
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Mulheres empreendedoras estão encontrando no universo digital um caminho para romper as barreiras históricas das diferenças de gênero.

O mercado de trabalho nunca foi um ambiente amigável para as mulheres. No e-commerce não é muito diferente e os desafios são grandes, mas a internet também pode representar um espaço de construção e empoderamento feminino.

Pesquisas já apontam o avanço das mulheres que estão escolhendo o comércio eletrônico para empreender e buscar independência financeira.

Neste artigo vamos falar sobre esses números. Além de analisar o contexto das mulheres no mercado de trabalho e conhecer exemplos inspiradores de sucesso no segmento.

O desafio das mulheres empreendedoras é histórico e cultural

No Brasil, as mulheres adquiriram os primeiros direitos trabalhistas com a Constituição de 1934. Apesar de estabelecer igualdade nas condições de trabalho, elas foram inseridas nas fábricas ganhando menos e, muitas vezes, atuando em funções insalubres.

Anos depois, a promulgação da Constituição Federal de 1988 consolidou o princípio da igualdade perante a lei. Isso deveria garantir que o salário e os direitos das mulheres no mercado de trabalho fossem equiparados aos dos homens.

Entretanto, mais de 30 anos depois, na prática a diferença salarial continua sendo um desafio feminino. Assim como as situações de preconceito e a cultura da diferenciação de benefícios por gênero.

Desigualdade salarial e resistência à liderança feminina

representa a liferança feminina

Essa diferença aparece no Relatório Global sobre a Lacuna de Gênero (Global Gender Gap Report), realizado em 2020 pelo Fórum Econômico Mundial. De acordo com o estudo, o Brasil aparece na 130º posição da lista de igualdade salarial entre homens e mulheres.

O ranking é composto por 153 países e considera o exercício de funções semelhantes na comparação de salário entre os gêneros.

Como se não bastasse ter que lidar com as cifras numéricas desfavoráveis, as mulheres também enfrentam resistências quanto à sua capacidade laboral.

A pesquisa Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero, publicada pela empresa Ipsos, mostrou que no Brasil 3 em cada 10 entrevistados, 30%, ainda se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como líder.

O estudo revelou também que 31% dessa resistência acontece por parte dos homens. Já a rejeição das próprias mulheres representa 24% da amostra pesquisada.

A média de rejeição à liderança feminina no Brasil ficou próxima a de países como Malásia, Coreia do Sul e Índia. No âmbito global, a média de resistência a mulheres em cargos de liderança é de 17%.

Dados mostram o crescimento de mulheres empreendedoras

Apesar de todo o contexto desfavorável, há mulheres empreendedoras que estão lutando e abrindo caminho para mudar esse cenário.

Muitas encontraram espaço no ambiente digital e aproveitaram a maré de crescimento do e-commerce que vem acontecendo nos últimos anos.

Um estudo realizado pelo Sebrae em 2021 mostra que 8 em cada 10 negócios que são de mulheres estão digitalizados. Quase 90% deles atua com vendas em marketplaces e redes sociais.

Micro e pequenas empresas comandadas por mulheres também ocupam um maior espaço no e-commerce, 72%, quando comparadas com as que são de propriedade de homens, 64%.

Trajetórias que inspiram a enfrentar os desafios

O cenário desigual do mundo dos negócios faz com que a vitória de mulheres que chegaram ao topo sirva de inspiração e incentivo. As mulheres crescem vendo outras mulheres crescerem.

Claro que mesmo em casos de sucesso feminino não podemos ignorar as condições de partida desses exemplos. Mulheres de classes econômicas mais baixas e negras sofrem ainda mais com as barreiras do mercado de trabalho e do empreendedorismo.

Nesses casos, junto a cultura de diferenciação por gênero é preciso somar a precariedade social e o preconceito racial histórico e atual.

Sem ignorar todos esses aspectos, decidimos trazer alguns casos de mulheres que romperam barreiras e ganharam destaque no mundo dos negócios.

Mulher, empresária e engajada em causas sociais

Quando falamos em mulheres empreendedoras no Brasil, é impossível não pensar na empresária Luiza Helena Trajano.

Dona de uma das maiores redes do varejo físico e online do país, o Magazine Luiza, ela é referência em aplicar o modelo Omnichannel no país e responsável por grande parte do sucesso da rede.

Além do seu empreendedorismo, Luiza é um exemplo para outras mulheres por seu engajamento em lutas pela igualdade de gênero e raça.

Apesar de ter crescido em um contexto privilegiado e ser parte de uma elite empresarial, a empreendedora rompeu essas barreiras. A líder usa o espaço conquistado para fazer muito mais do que negócios.

Não é por acaso que Luiza Trajado é um dos nomes mais influentes do país. Ela aborda temas que costumam ser ignorados por quem não vive o drama da desigualdade social.

Uma rede de mulheres empreendedoras que crescem juntas

Ana Lúcia Fontes, filha de pais alagoanos que migraram para São Paulo em busca de uma vida melhor, começou a trabalhar aos 11 anos.

Após 18 anos atuando na iniciativa privada e depois de ter conquistado um cargo de executiva em uma grande empresa brasileira, privilégio de poucas mulheres, ela decidiu largar a carreira para empreender.

A conquista de um lugar no alto escalão da companhia foi apenas o primeiro passo de empoderamento para que a profissional enxergasse que queria (e podia) mais.

Após sucessivos erros como empreendedora, ela percebeu que era preciso criar uma rede de apoio entre mulheres que desejam empreender. Assim, ela fundou a Rede Mulher Empreendedora (RME) e logo o Instituto RME.

Além de incentivar e ajudar as profissionais a montar o negócio, o instituto REM apoia mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Atualmente, a rede é referência e executa um papel essencial para dar visibilidade a essas mulheres empreendedoras.

A força da representatividade de mulheres pretas no empreendedorismo

Se falar de representatividade feminina é forte, falar em representatividade feminina negra é ainda mais impactante. A empresária, jornalista e ativista Monique Evelle é um desses exemplos inspiradores.

A jovem nascida em Salvador começou a ganhar visibilidade com apenas 16 anos quando fundou a organização Desabafo Social. A iniciativa era um laboratório de tecnologias para serem aplicadas na geração de renda.

Mais adiante ela fundou também a SHARP, hub de inteligência cultural, foi destaque em revistas como Forbes, Cláudia e Época e publicou livros sobre temas relacionados ao feminismo negro.

Recentemente a jovem foi contratada como consultora de inovação do Nubank, empresa startup pioneira em serviços financeiros digitais no país.

Como consultora, Monique tem um papel fundamental para gerar ações de diversidade e inclusão na empresa.

Liderando esse projeto em uma das marcas tecnológicas mais importantes da atualidade, a empresária é inspiração para que outras mulheres acreditem que é possível chegar onde desejarem.

E-commerce oferece maior flexibilidade em um mercado desigual

mulheres empreendedoras reunidas em volta do computador

Embora gerem inspiração e orgulho, a ocupação de espaço no mercado de trabalho pelas mulheres não pode ser romantizada.

No caso do e-commerce, é preciso considerar que a internet oferece oportunidades para empreender com maior flexibilidade. No entanto, essa necessidade de flexibilização no trabalho por parte das mulheres também é reflexo de um mercado desigual.

Para a sociedade, o papel laboral da mulher ainda é secundário. Antes, há inúmeras funções sociais que são atribuídas a elas com mais peso do que aos homens. O cuidado da casa, dos filhos e da família em geral ainda é vinculado ao gênero feminino naturalmente.

Mesmo estando no mercado de trabalho há quase 100 anos, a mulher segue tendo a responsabilidade implícita de manter, sozinha, o ambiente doméstico em ordem.

Carregar essa obrigação enquanto precisa enfrentar diversas barreiras no ambiente corporativo e dos negócios é ainda mais desafiador.

No empreendedorismo digital há uma maior possibilidade de conciliar todas essas funções. Porém, essa abertura de oportunidades não desconstrói a enorme desigualdade social e cultural vivida pelas mulheres.

Os passos dados até aqui são grandes e já mostram resultados, mas a realidade está longe do ideal. A caminhada ainda é longa e requer envolvimento de toda a sociedade na busca por uma mudança efetiva e justa.

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